Em minha adolescência e juventude eu
fui como qualquer outro garoto normal é. Sempre fui muito ativo e curioso.
Gostava de sair com os amigos para as baladas, conhecer pessoas diferentes e me
divertir. Conheci e experimentei muitas “coisas” e uma delas foi o COGUMELO
MÁGICO. Só que nesta época eu era um cara meio bobão e não era muito sensível
para as coisas da natureza e sobre a espiritualidade. Eu usava porque meus
amigos usavam e apenas queria ficar chapado. Não havia um propósito e não havia
uma preparação adequada para o consumo do chá. Às vezes, eu pegava os COGUMELOS
no pasto e ali mesmo eu os comia junto com meus amigos. Quanta idiotice e
ingenuidade!
Passado algum tempo eu enjoei daquilo
e parei de tomar o chá. Fui crescendo; fui evoluindo mentalmente e
espiritualmente; fui conhecendo mais sobre mim mesmo e sobre o universo; fui me
interessando mais pela vida e pela expansão de minha consciência; enfim, eu fui
me tornando uma pessoa melhor e mais sábia.
Hoje eu estou com 32 anos de idade e
bastante maduro e consciente sobre o meu papel a desempenhar aqui neste
planeta. Me casei e vim morar na “roça”. Moro num lugar bem afastado da cidade
e do movimento urbano e vivo uma vida tranquila. Aqui temos de tudo que um
lugar na roça tem. Temos flores, grama, frutas, mata virgem, cachoeira, animais
de estimação, poço de peixe, tudo isto na porta de minha casa. Eu não possuo,
mas tem os outros parentes que tem pasto e vacas para produzirem leite. Não são
muitas, mas têm algumas.
Aqui, neste maravilhoso lugar, eu fui
procurado pelos COGUMELOS MÁGICOS mais uma vez. DESTA VEZ NÃO FUI EU QUEM FOI
ATRÁS DELES E SIM ELES QUE VIERAM AO MEU ENCONTRO ATRAVÉS DE VISÕES E DE SONHOS
CADA VEZ MAIS INTENSOS. Através destes sonhos eu comecei a pesquisar mais sobre
enteogenia e sobre seus benefícios. Passei alguns meses fazendo várias
pesquisas e decidi voltar a tomar o CHÁ DE COGUMELO MÁGICO.
Através dos sonhos que tive, eu
consegui chegar onde os COGUMELOS estavam me esperando. Colhi alguns e fiz um
chá pouco concentrado e irei contar a experiência que tive:
“O dia eu não lembro direito, mas
lembro que foi às sete horas da manhã que eu tomei o chá. Eu me levantei antes
das sete, quando o sol estava começando a nascer no horizonte, e fui caminhando
em direção ao pasto para colher os COGUMELOS. Durante esta caminhada eu fui
falando comigo mesmo que se fosse para eu encontrá-los, era para eu encontrar
os mais bonitos e belos possíveis. Dizia mentalmente que eu estava pronto e que
iria fazer o melhor uso possível daquele chá mágico.
Fui caminhando lentamente e quando
cheguei ao local, parei, respirei fundo e disse que estava pronto. Após alguns
minutos procurando eu encontrei um monte de cogumelos juntos e fiz uma pesquisa
se eram aqueles mesmos que eu precisava. Colhi-os e trouxe para casa.
Chegando em casa eu fui lavá-los e
cortá-los. Coloquei-os numa panela com água gelada, liguei o fogo baixo e
deixei até ferver. Fervido, coei e deixei esfriar um pouco e fui me preparar
para ingeri-los.
Após um breve ritual espiritual
pessoal, e às 7 da manhã, eu tomei um copo do chá e relaxei. Dei uma breve
caminhada ao redor de minha casa e me sentei num banco que ficava em frente
para a mata virgem onde desce uma linda Cachoeira. Fiquei contemplando aquela
paisagem enquanto esperava o efeito bater.
Após meia hora a psilocibina começou
a bater. Sensações de calma e leveza foram tomando conta de meu corpo e minha
audição e visão começaram a ficar mais sensíveis. Eu comecei a enxergar formas
que antes eu não enxergava e a ouvir barulhos que antes eu não ouvia. Ouvia o
canto dos pássaros lá no horizonte, bem longe mesmo, ouvia as galinhas,
cachorros, vacas, e nada disto me incomodava. O barulho da Cachoeira caindo era
espetacular e bastante calmo. Via os pássaros passando em minha frente e alguns
deles até paravam perto de mim como se estivessem dizendo um “olá”.
A mata virgem balançava de um lado
para o outro e nem havia vento. Era um balé fantástico como se fosse os
pássaros em migração. Eu olhava para baixo e via que a terra e a grama estavam
se movendo de um lado para o outro e para cima e para baixo como se estivem
respirando. Eu me sentia parte daquilo tudo. Fixava meu olhar no horizonte não
vendo nada, mas ao mesmo tempo via tudo. As nuvens tinham formas de animais e
as árvores também. O sol já não me queimava e não me incomodava. Eu ficava
brincando com a minha respiração e a natureza respirava junto comigo. Era tudo
lindo e maravilhoso.
Eu não conseguia fechar os olhos,
pois o que eu estava vendo e sentindo eu queria continuar sentindo para a vida
toda. Todas aquelas cores vivas e aquele movimento estavam me deixando
totalmente calmo e em êxtase.
Passado uma hora mais ou menos eu me
levantei e fui fazer uma caminhada em volta de minha casa. Sentia que as
plantas estavam falando comigo. A cada passo que eu dava eu parava para admirar
a beleza de tudo aquilo que eu estava vendo. Eu estava muito feliz e dançando o
tempo todo, mesmo que não houvesse nenhuma música tocando. Eu estava dançando a
música do universo.
No meio desta viagem eu me deparei
com um monte de flores que minha esposa cuida e comecei a ter uns pensamentos
meio que diferente. Eu comecei a pensar que eu era um idiota e não conseguia
ver e sentir tudo aquilo que eu estava sentindo, no dia-a-dia. Eu não via toda
aquela beleza num dia normal e precisei de usar uma substância para ter aquelas
visões e sentimentos. Me senti um inútil por um momento. Um besta.
Nesta hora, eu comecei a alisar as
plantas e fazer carinho nelas. Comecei, literalmente, a conversar com elas. Eu
pedi DESCULPA por eu ser quem sou e pedi PERDÃO se eu fiz alguma coisa de ruim
que as prejudicaram. Eu disse para elas que eu jamais seria o mesmo a partir
daquele momento e que eu dedicaria totalmente a minha vida para cuidar delas e
preservar toda a natureza. Comecei a chorar perto delas e deixei cair uma
lágrima em cima delas e disse que eu cuidaria de todas as coisas da natureza
com todo o meu amor.
Após aquele momento de pura
sensibilidade, eu me senti muito mais feliz e realizado. Senti que fiz o que
tinha que ser feito, senti o que tinha que ser sentido e vi o que era preciso
ser visto. Continuei caminhando pelo jardim e me deitei na grama e fiquei
olhando para cima. Não estava focando em nada, mas estava vendo tudo.
Não dá para escrever em palavras tudo
o que eu vi e senti naquele momento. Foi tudo lindo, maravilhoso e intenso.
Mais de 4 horas da mais pura e satisfatória sensação de minha vida.
Após aquele momento, tudo em minha
vida fez muito mais sentido. Eu sou parte do TODO. Eu sou parte da NATUREZA. Eu
faço parte do UNIVERSO.